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Sergio Valério
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Crônicas
As Mágoas e os Rios

Sergio Valério
 
Carregamos em nossas vidas muitas mágoas. Elas parecem ser tão fortes que temos dificuldade em buscar o perdão em nossas mentes para aplacar a sua força.
As mágoas podem ser fincadas em nossas almas em diversos momentos de nossas vidas. Às vezes, eles nascem em nossa infância, em algum fato que marcou o tempo em que éramos crianças. Outras mágoas surgem quando somos jovens, algumas adquirimos quando já somos adultos e, mesmo que tenhamos aprendido um pouco mais sobre como nos defendermos delas, a força com que elas imprimem suas marcas dentro de nós, se faz presente, mesmo que o tempo tenha nos deixado aparentemente com mais experiência.
O que fazer com as mágoas? Como vencê-las? É possível apagá-las de nossas mentes? Basta nos reconciliarmos com aqueles que as nos puseram em nosso peito? Rezar intensamente por aqueles que mexeram com o nosso sentimento, pode resolver?
Todas as alternativas são válidas se queremos buscar algo melhor para a nossa mente, para o nosso dia a dia, porém lidar com as mágoas requer uma habilidade difícil de se aprender.
Não existe manual para esquecer uma mágoa e nem tão pouco acredito que possa ser possível apagar um fato que já se misturou em nosso sangue, em nossas veias e em nosso cérebro.
A mágoa chegou, se instalou e ponto final. Ela está dentro de nós e não adianta negar nem para os outros e nem para nós mesmos.
Mágoas apertam o nosso coração, entristecem a nossa vida, nos tiram a paz e podem nos deixar frágeis demais. Tão frágeis podemos ficar que outras mágoas virão se somar às primeiras que se instalaram dentro de nós.
Mágoas não podem ser resolvidas com um telefonema e nem com um e-mail. Podemos tentar dizer que dentro de nós não existem mágoas, mas se elas existirem estarão em nossos rostos, misturadas com os traços que ganhamos no decorrer do tempo, estarão percorrendo o nosso corpo, tornando-o até doente, se nos abandonarmos e nos entregarmos a “curtir” uma mágoa.
O que fazer então? Talvez uma forma de vencer nossas mágoas, antigas e novas, seja o de nos deixarmos levar pelos rios dos acontecimentos que se sucedem todos os dias.
Imagine-se em um rio totalmente vazio em seu leito. Deite-se nesse rio. Solte todo o seu corpo. Sinta-se colado ao leito do rio.
Respire fundo. Tente não pensar em nada. Tente nem sentir o peso de suas pernas e braços. Feche os seus olhos e imagine que o rio está vindo para ocupar o seu leito que, no momento, está vazio.
As águas estão chegando e você está ali, deitado sentindo o cheiro da terra e o som das folhas das árvores que balançam pelo vento forte.
As águas se aproximam e você não tem medo delas. Você as espera e sabe que elas irão cobrir o seu corpo.
O barulho das águas começa a crescer e você sente o primeiro toque em seus pés.  Você não pensa mais em nada. Somente sente.
As águas envolvem o seu corpo e seguem em frente. Elas irão levar as suas mágoas para longe.
As águas de um rio seguem sempre em frente em direção ao mar.
Você nem sente mais as suas mágoas.
Seu corpo aceita o comando de sua mente e se levanta. Você está leve sem as suas mágoas.
Talvez seja esta a forma de nos livrarmos das mágoas, deixar que elas sigam sozinhas em direção ao mar, sem que insistamos em tê-las em nosso peito.
Deixe suas mágoas irem embora. Você não precisa delas para viver, mas se você não permitir que elas sigam sozinhas sem você, elas podem se apoderar do seu corpo de tal forma que se tornarão até parte de você.
Você irá respirar mágoas, engolir mágoas, chorar mágoas e morrer de mágoas.
Não faça isso. Liberte-se de suas mágoas e faça de você uma pessoa forte e feliz. Sem mágoas.
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