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Sergio Valério
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Crônicas
O Santo e o Pai na final da Libertadores…

Sergio Valério

O sol ainda não tinha sido autorizado para brilhar por São Pedro e a ansiedade dominava aquele santo que andava para lá e para cá com o seu cavalo.
Era o dia da partida final da Copa Libertadores e nada estava garantido, mesmo com a campanha impecável do time de coração de São Jorge.
A casa onde morava Deus ainda estava com as janelas fechadas, o que apontava que ele ainda estava descansando, afinal de contas, dava um trabalho danado cuidar daquele planeta chamado Terra, onde os habitantes cismavam em arrumar sempre um jeito de, volta e meia, se desentenderem.
São Jorge descia e subia em seu cavalo, impacientemente, esperando que as janelas da casa de Deus se abrissem.
Lá pelas 8 horas da manhã, o santo não resistiu e tocou a campainha. Deus, que já estava acordado, abriu a porta e disse:
-Pode entrar, meu amigo Jorge! A casa é sua!
São Jorge entrou e o seu cavalo ficou pastando no belo verde do jardim de Deus.
Deus, que ainda estava de pijama, foi até o fogão e colocou água para ferver para fazer um café e perguntou:
-E aí, Jorge, o que acontece? Eu estava descansando, pois dormir é uma das coisas que eu não consigo fazer, pois sempre estão pedindo a minha ajuda, e notei que você estava agitado nesta manhã…
São Jorge sentou-se na cadeira, colocou os seus braços sobre a mesa e suspirou:
-Pois é, meu amigo Deus, eu estou meio sem jeito para lhe pedir uma coisa, mas não consigo mais resistir e vou falar. Se você não puder me atender, paciência, aliás, esta é uma qualidade que o Senhor sempre pede que tenhamos, não é mesmo?
Deus olhou para o santo e falou:
-Jorge, você sabe que comigo não tem segredos. Pode dizer…
O santo criou coragem e foi falando: – Sabe o que é? O meu time hoje vai jogar uma partida muito importante e eu queria saber se poderia dar uma força…
Deus olhou meio de lado para o santo e disse: – Você sabe que eu costumo dar prioridade para outras coisas, temos milhões de pedidos para atender e nem sempre conseguimos atender a todos e alguns até fazemos questão de deixar para as próprias pessoas o poder de resolvê-los, senão elas acabam ficando muito dependentes…
São Jorge respondeu: – Eu sei, mas é que é um caso especial e seria muito importante o seu apoio.
Deus sorriu e disse: Tá bom! Eu vou pensar, certo? Agora, pode voltar para o seu cavalo que ele está impaciente lá fora, esperando por você.
O dia teve a mesma duração de todos, mas para o santo parecia que as horas se arrastavam até chegar a hora do jogo.
Quando acabou a novela, o santo já não se aguentava de expectativa e ligou a sua TV que estava sobre uma das nuvens do céu.
O juiz apitou e a cada ataque do time adversário, seu coração de santo batia desesperadamente, como se quisesse sair pela, com o perdão da palavra, “boca”…
Terminou o primeiro tempo e o santo já está desconfiado que Deus não iria atender o seu pedido, pois os caminhos para o gol para o seu time estavam ainda muito difíceis.
São Jorge teve vontade de pegar o celular e ligar para Deus, mas resistiu, falando para si mesmo: – Ele já tem muitas coisas para resolver e eu ainda invento de pedir coisas como apoio para o meu time…
O segundo tempo começou e, de repente, o santo viu Danilo tocar de calcanhar para Emerson que não teve dúvidas, tocou para o gol! São Jorge gritou, pulou e o seu cavalo relinchou como nunca!
O santo olhou para baixo e pode ver, lá longe, o estádio do Pacaembú explodir em fogos e em olas da torcida…
Passados mais alguns minutos, o Sheik fez mais um e o santo não resistiu: – Colocou no peito a faixa de campeão que ele havia comprado de um anjo, em uma das esquinas do Paraíso, enquanto esperava o farol abrir.
Ao final da partida, o Planeta Terra estava todo em festa que, aliás, se prolongou pela noite adentro…
No dia seguinte, São Jorge tocou novamente a campainha na casa de Deus.
O Pai abriu a porta e sorrindo convidou novamente o santo para entrar. O café já estava pronto na mesa e os dois tomaram, com deliciosos pães de queijo feitos por Nossa Senhora que estava mais feliz do que nunca.
O santo, meio sem graça, disse: – Foi você, não foi?
Deus olhou para São Jorge e disse:
- Sabe, depois que você saiu, eu pensei bem e fiz o seguinte: – Chamei o Doutor e pedi para ele me ajudar no seu pedido. Ele estava mesmo com muita vontade de rever os amigos e aceitou na hora. Quando a bola veio em direção ao Danilo, o Doutor Sócrates falou no ouvido do craque corinthiano: – Dá de calcanhar! Não deu outra…
São Jorge sorriu, tomou o seu café, deu um forte abraço em Deus e saiu da casa com a impressão de que o Pai estava também muito feliz pela vitória do timão, pois ele falou do gol, com muito entusiasmo…
O santo olhou para o seu cavalo e disse:
-Sempre dizem que ele é brasileiro, mas depois dessa, eu acho que vou pedir para a minha torcida estender uma faixa com os seguintes dizeres:
-Deus é corinthiano!!!
O cavalo de São Jorge relinchou, como se estivesse concordando com o santo e lá se foram os dois, felizes, ao som de um hino que parecia vir da casa do Pai…
 
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